"A realidade é muito mais interessante do que viver feliz para sempre."





...

junho 01, 2011

as crianças


Diz-se que há um tempo de ser criança. Não creio!
Falemos então de crianças. As verdadeiras e as outras.
Primeiro as primeiras. As que, unanimemente afirmamos, enquanto se é, é a melhor coisa do mundo. Julgo que também para o mundo. Porque são a nossa esperança.
São de uma matéria ainda pura, feita de amor incondicional e fazem-nos crescer em ternura e em vontade de trabalhar para melhorar o mundo e os homens. Fazem-nos sobretudo acreditar que isso é possível e, porque acreditamos, conseguimos de facto melhorar muito do que está menos bem feito, destruir o que ameaça destruir-nos e construir de novo o que pode tornar mais belos os dias. Os delas, os nossos e os dos outros.
São o que de melhor existe no mundo, as crianças.
E depois as outras. Aquelas que não perderam o jeito de sorrir com as duas orelhas coladas aos cantos da boca. As que ainda acreditam no poder desse sorriso e por vezes deixam cair sem pudor uma gargalhada no meio de um silêncio feito de adultos. As que, em momentos inusitados, fecham os olhos fingindo cansaço, para poderem sonhar sem dormir. Como se tivessem idade para isso. As que se deixam ficar paradas na rua ou à chuva, indiferentes ao tamanho e a repreensões veladas, apenas porque existe um arco-íris no céu a pedir para ser visto.
Estas outras são menos. Mas não são poucas. Vivem quase sempre mais perto das primeiras. E o mais certo é nunca deixarem de ser assim.
O meu mais sincero afeto vai para as verdadeiras. Para quem desejo o mundo melhor que possa existir. Porque deverá ser sempre delas o que de melhor houver para dar.
Às outras deixo apenas duas orelhas coladas aos cantos da boca. O resto fica-nos em segredo!

outubro 06, 2010

a vida...


Só quando descobrimos que a vida, assim como a vivemos, não passa afinal de um grande logro, conseguimos, finalmente, viver em paz com ela.
E então divertimo-nos.

junho 18, 2010

saramago

Morreu.
Antes disso deixou-me um livro: O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984).
Do resto não sei.

junho 11, 2010

será apenas uma frase...


"Se não sabes para onde vais, como poderás saber se já lá chegaste?!"

abril 28, 2010

montra de vaidades

Eis que no lugar mais inusitado, assisto a um desfile de Super-Egos. E descubro (ou melhor seria dizer, confirmo) quão ténue pode ser a linha que separa esse patamar tranquilo a que ascendem os seres verdadeiramente evoluídos, do abismo escavado pelo estridente brilho da vaidade.
Prefiro este silêncio.

fevereiro 24, 2010

I can fly

Esta manhã vi um pássaro de asas cor-de-rosa.
Passou rente aos vidros embriagado no próprio voo.
Pássaro vadio ou ave fugida do paraíso?
Ficaram ambos dentro de mim.

janeiro 20, 2010

indo assim...por paixões

Infeliz não é quem ousou enfrentar o perigo e perdeu.
Infelizes são todos os que viraram costas à emoção do risco e lutarão eternamente contra a angústia de jamais adivinharem o que ficaria para lá do sinistro apelo da paixão.
Não troco por isso as minhas derrotas -embora quase todas povoadas por meros fragmentos de mim e nada mais, pelo traiçoeiro colo aveludado do conforto, onde se refugiam os tristes filhos da cobardia.
Que venha a loucura, que fique por cá…porque se algo de eterno houver, que seja ela, para me levar a pisar repetidamente o risco. Seja o final qual for!

janeiro 14, 2010

Haiti


Tocam-nos nas lágrimas. Cada vez mais...

janeiro 13, 2010

Haiti


As imagens sobressaltam. E os relatos ainda confusos de quem sobreviveu à tragédia tocam-nos nas lágrimas. São pessoas que sofrem. Sim, sabemos. São sem dúvida de pessoas aqueles pedaços de pele escura e de vestes coloridas que se vêem por entre a amálgama de pedras e de pó. Mas estão-nos longe. Não lhes ouvimos a dor. E o drama não é nosso. Então o melhor é continuarmos assim: serenamente sentados sobre o risco que nos espreita também a nós, nesta terra deliciosamente beijada pelo mar. E finjamos que também não temos culpa nenhuma disto, embora insistamos diariamente em gestos que fazem doer ao nosso pequeno planeta.
Continuemos a passear, a dormir, a rir, a amar, a trabalhar. Continuemos, como se, sob os nossos pés, não repousasse o perigo, à espera do melhor momento para acordar e transformar este nosso recanto soalheiro numa imagem assim.
Por favor ouçam a Terra. Por favor.

janeiro 10, 2010

Surpreendam-se...


Instrumento construído pela Sharon Wick School–Faculdade de Engenharia da Universidade de Iowa, com a colaboração do conservatório de Música Robert M. Trammell. Cerca de 97% dos seus componentes são equipamentos agrícolas.

dezembro 28, 2009

A verdade é que...


De nada vale mascararmos de vermelho os sorrisos.
Nem plantarmos rosas nas palavras já gastas pelo mau uso.
Tal como o amor, a amizade só faz sentido quando se torna incansável.
E os gestos nunca mais serão pensados.

dezembro 23, 2009

momentos


Quando a vida for muito pesada, transforma-te em folha e deixa-te levar pelo vento...

Copenhaga/09

Desculpa Terra...

dezembro 18, 2009

in the rain...





Hoje está a chover na minha rua.
Peguei nos pensamentos onde escrevi o teu nome, prendi-os bem nas mãos fechadas em concha e fui pô-los lá fora. Depois fechei-lhes as janelas.
Espero que a água os leve.

dezembro 14, 2009

O roubador do Verão

Há dias fui à procura do roubador do Verão.
Tinha os músculos empedernidos e a certeza de que o sangue se me congelara nas veias. Receava mesmo que, fosse eu distrair-me uma vez só e a ponta do nariz caía-me aos pés. Mesmo assim avancei determinada serra do Caldeirão acima, onde, disseram-me, ele costuma acoitar-se por alturas de Dezembro. Normalmente demora uns quantos dias a empacotar a estação dentro dos velhos baús de madeira, avisaram-me, porque sempre tem para domar uns cinco ou seis meses de temperaturas perigosamente atraídas por uma bipolaridade cada vez mais crónica, graus inflamados por uma vaga de fenómenos com tendências extremistas, atmosferas carregadas de fascínio pelos míticos ares secos vindos lá do Norte d’África, ventos irascíveis que remoinham muito bem por onde lhes apetece e umas quantas chuvas eternamente vacilantes que escorregam como enguias acabadas de sair do mar. Enfim, não é fácil…
Encontrei-o sentado num montinho de terra enlameada, rodeado por troncos de árvores enrugadas, de onde pendiam galhos entristecidos pela saudade das folhas. No chão rareavam já as moitas verdes onde até há bem pouco tempo dançavam deliciosos cálices de pétalas coloridas. Um deserto de calor…
- Hei, chamei-o. És tu o roubador do Verão?
Ele olhou-me de soslaio sem esboçar um leve cumprimento que fosse. Parecia estar a descansar e reparei que tinha, presas aos dedos, três malas forradas a xadrez escocês trancadas a cadeado. Então e o raio dos baús? pensei um bocado confusa.
- Fazes o favor de soltar o Verão e desaparecer daqui de uma vez por todas? gritei-lhe, dando à voz enrouquecida pelo frio a força que faltava ao débil argumento. Não me preparara lá muito bem para o confronto com o miserável das estepes e contrariando a lógica que está sempre presente nestas ocasiões, senti as faces enrubescerem como se lhes tivessem ateado fogo, não sei bem se o da raiva ou o da vergonha.
O estúpido atacou-me então com um sorriso trocista por cima do ombro. Atirei-lhe logo uma pedra, como fazemos aos cães quando os queremos a fugir para longe com o rabo entre as pernas, mas em vez de lhe acertar, ficou-lhe a três centímetros da testa, suspensa no ar.
-És parva ou quê?
Embaraçada com o fiasco da pedrada demorei-me na resposta. E ele, aproveitando-se do meu estado titubeante, flectiu à traição os joelhos para ganhar balanço e partiu em linha recta na direcção do céu, mas não sem antes traçar um voo rasante por cima da minha cabeça, o que provocou uma deslocação de ar tão forte que me arrancou a ponta do nariz. Não acredito...
Desci a serra amuada. E também sem conseguir respirar lá muito bem.
Da próxima vez que o encontrar ele vai ver!

dezembro 13, 2009

CG

Temos toda a eternidade para dormir, dizias.
Espero meu amigo que existas agora no teu sono com a mesma intensidade com que nos ensinaste a espreitar a vida. E que encontres também alguns grupos de guerrilha, com quem partilhes pão e piolhos, e que te deixem fotografá-los na fé e na miséria, para depois nos contares o outro lado das histórias.
E se puderes perdoa-me.

Um presente de cristal


A minha amiga Ana Gill tem o hábito de apanhar coisas na rua e levá-las para casa. Um destes dias, com a ajuda de mãos pequeninas, construiu a minha mais bela árvore de Natal e com aquela ternura infinita que habita nela, ligou-a aos nossos corações. As garrafas dos refrigerantes que já engoliram milhares de sedes transformaram-se subitamente em cintilantes bolas de cristal, que iluminam agora o centro da bonita aldeia de Cacela Velha. Brilham tanto que até dá para ver da lua.

dezembro 12, 2009

Se tu soubesses...

Todo o amor que adiamos hoje, estará amanhã, irremediavelmente perdido.